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São Paulo, julho de 2025
Gisele Takuma*
Nos últimos
anos, tive o privilégio de acompanhar de perto a trajetória de vários jovens
aprendizes. O que tem me marcado de forma mais profunda além da evolução
profissional deles é a transformação mútua no ambiente de trabalho que acontece
quando a empresa abre espaço real para o jovem ser quem ele é e crescer a
partir disso.
Recentemente, fui convidada para dar uma palestra por uma instituição que promove a capacitação desses jovens. A proposta era simples: contar minha trajetória. Aceitei, entendendo que aquilo seria mais que um depoimento, seria uma doação de tempo, de escuta e de troca.
A sala estava lotada com mais de 80 jovens, entre 16 e 18 anos, todos enfrentando seus próprios desafios. Decidi contar a minha história com o máximo de franqueza. Disse que sou filha de uma costureira e de um operário, que minha primeira faculdade não foi de primeira linha, que já me senti isolada por ter um sotaque “diferente”. Contei que me formei em uma área, Contabilidade, mas fui me encontrar em outra, Recursos Humanos. Falei dos preconceitos, da ansiedade de quem entra no mundo corporativo sem referência nenhuma. E, sobretudo, da certeza de que é possível chegar lá – mesmo quando “lá” parece muito longe.
Os jovens carregam expectativas e dúvidas muito reais. Eles queriam saber como se portar na primeira entrevista, como identificar um feedback ruim, como chamar a atenção do gestor sem parecer forçado. “Como eu faço meu gestor brilhar os olhos?”, perguntou uma menina de 16 anos. Respondi: “olhe para os processos, pense em como melhorar. Sugira. Arrisque. Pergunte. Abra a câmera. Mostre-se, porque ser visto já é metade do caminho”. Isso também vale para muita gente que já está no mercado há tempos.
Muitos contaram experiências difíceis nas empresas por onde já passaram. Situações em que se sentiram esquecidos, sem espaço, sem acolhimento. Alguns chegaram a ouvir, de gestores, que estavam ali por causa de uma obrigação legal. Isso dói, é cruel. Por isso, quando acolhemos de verdade e olhamos com atenção, o retorno vem.
Aprendizes não são mão de obra barata. Com todo realismo, eles são o futuro das companhias. Se continuarmos ignorando-os, sem prestar mentoria e abrir oportunidades, perderemos talentos e repetiremos as desigualdades.
O papel do gestor é acolher, assim como o de toda a equipe. Quando um jovem entra, precisa rodar pelos subsistemas, entender onde pode se encaixar, descobrir o que ama. Uma vez, notei que uma aprendiz da minha equipe não vibrava com os processos administrativos e eu a convidei para organizar uma apresentação. Nessa hora, aflorou outra profissional. Conversei com meus colegas e hoje ela está produzindo conteúdo para redes sociais, isso é o que faz os olhos dela (e ela) brilharem.
Às vezes, basta ouvir, estar presente, se interessar. O gestor precisa saber o que o aprendiz está aprendendo na teoria, acompanhar, avaliar. A lei pede relatório de estagiário a cada seis meses. Por que não fazer o mesmo pelos aprendizes?
E para quem ainda se pergunta... Sim, é possível crescer numa multinacional, mesmo com origem mais humilde, de uma família sem histórico de boas oportunidades de trabalho. Sim, é possível começar pequeno e chegar longe. Mas, é muito mais provável que isso aconteça quando alguém – ou uma empresa – está disposta a estender a mão, ouvir de verdade e abrir espaço.
No fim das contas, esse contato com os jovens também nos ensina. Faz lembrar por que começamos e por que ainda vale a pena continuar.
* Gisele Takuma é Gerente Sênior de RH & ADM na Hughes do Brasil
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